13/06/2016

Mielopatia degenerativa - Uma realidade na minha família

Quando se gosta de um animal como parte integrante da família tenta-se encontrar respostas para o sofrimento que se aproxima, para o inevitável.
Tive sempre algumas dificuldades em passear a nossa cadela pastor alemão  ao longo destes quase 13 anos, que ela está na nossa família, devido à força, energia e espírito de liberdade típico dos pastores alemães. Pelo menos uma vez fui literalmente arrastada por ela quando tentou  perseguir um cavalo.
Por mais que desejássemos fazê-la uma cadela educada e sociável com os outros cães, foi algo que nunca conseguimos fazer. Nos primeiros anos de vida andou em treinamento mas manteve sempre a sua personalidade de cão de guarda, fiel à família e do mais fiel que pode haver.
Ela até poderia fazer o pino de tão inteligente que sempre foi mas, quando se tratava de estar ao pé de outros cães a coisa mudava de figura sobretudo, se outros canídeos lhe viessem chatear cheirar, no seu diâmetro de conforto. 
Aquele olhar meigo e doce, aqueles olhos castanhos cor de mel olham agora para nós, como se nos perguntasse diariamente: o que se passa comigo?
Desde que estamos a viver no campo notamos algumas mudanças que a princípio, não nos pareceu sintoma de uma doença.
Como eu disse anteriormente, no início todos achávamos alguma piada à forma como ela fazia as necessidades quando íamos passear. Para fazer xixi ainda conseguia agachar e talvez por esta razão não relacionámos que estivesse a ficar doente. O que começou a ser estranho era a forma como ela começou a fazer cocó pois, fazia-o sem parar de andar e arrastava ligeiramente as patas traseiras. Cheguei a comentar isto com várias pessoas amigas e todos diziam o mesmo ou seja, vai na volta e a cadela está tão contente por estar no campo com tantas coisas para cheirar que tem de aproveitar todos os instantes para cheirar tudo o que puder mesmos que tenha de fazer cocó ao mesmo tempo.
Voltei a passeá-la sozinha e ainda o fiz durante alguns meses com ela a manter este padrão de arrastar as patas traseira quando ia começar a fazer cocó.
Foi num domingo, em novembro de 2015, que fui fazer o passeio habitual com ela e tudo ficou literalmente diferente desde então. De notar que o percurso não era longo nem difícil mas, tornou-se num calvário. Em determinado momento do passeio ela deixou-se cair depois de fazer xixi e assim ficou sem conseguir levantar.  Foi como se ficasse paralisada das pernas traseiras de um momento para o outro e aquele olhar meigo e doce continuava a olhar para mim cheia de dúvidas e eu completamente à nora, sem saber o que estava a acontecer sem saber como ajudar, sem nenhum carro que passasse nas redondezas e que eu pudesse pedir ajuda, sem nenhum vizinho que eu pudesse chamar para me trazer um carrinho de mão ou algo que valesse a pena para transportar a minha kika com quase 40 kilos, sem o meu marido em Portugal, sem as minhas filhas ao pé de mim e eu que não podia fazer nenhum esforço físico pois estava recém operada. As lágrimas não tardaram a correr pelo meu rosto e no meio de tanta emoção, sentei-me ao lado dela e fiz-lhe festinhas, muitas festinhas e disse para ela ter calma que tudo aquilo ia passar. Tive de manter a calma pois não tinha outra opção. Depois de alguns minutos a descansar ela conseguiu dar uns passos e voltou a cair nas patas traseiras. Fizemos o percurso de regresso à casa todo assim e a Kika nunca mais voltou a ser como era, fisicamente claro.
Na semana seguinte tivemos de chamar o veterinário à nossa casa e a Kika foi fazer exames de diagnóstico ao Centro Veterinário. Para além dos vários bicos de papagaio, ela tem uma doença que ataca sobretudo pastores alemães entre o 5.º e o 14.º anos de vida, a mielopatia degenerativa, uma doença medular sem tratamento e sem cura.
Aquilo que tentamos fazer diariamente é oferecer amor, muito amor, bem estar e qualidade de vida, até não ser mais possível.
Neste momento ela já não consegue controlar as necessidades fisiológicas e está cega de um olho mas é amada como no 1.º dia em que chegou à nossa casa.
Temo o pior e partilho esta experiência na expectativa de ajudar outras famílias que estejam a passar pelo mesmo.

4 comentários:

  1. Estou emocionada com esse texto, tenho um pastor alemão de 11 anos de idade e este de um dia para o outro ficou mais fraco, com dificuldades para levantar e triste, já levei ao veterinário e ele está com problemas de próstata, vai ser operado daqui duas semanas e estou com o coração partido por saber que ele corre riscos. Que Deus ajude a sua Kika e o meu Lex. Abraços! Lara

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  2. Lara, a Kika ainda está connosco e só temo o início do outono/inverno que está para breve pois, segundo a literatura da patologia piora muito nestas estações do ano.
    Tentamos fazer com que todos os dias ela se sinta feliz e julgo que estamos a conseguir.
    Espero que o seu Alex recupere bem e rápido. Há uns anos atrás a Kika fez uma cirurgia enorme (retirou uns quistos do tamanho de bolas de ténis) e a recuperação foi demorada mas muito positiva.
    Tenho a certeza que o seu Alex é um valente (típico desta raça).
    Por favor depois diz qualquer coisa sobre a operação dele.
    Beijinhos e tudo a correr pelo melhor <3

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    Respostas
    1. Oi querida! Infelizmente meu Lex não resistiu e se foi na última quarta-feira dia 28/09, estou dilacerada....cuide bem e dê muito amor pra sua Kika, porque eles se vão muito rápido e deixam uma saudade devastadora...

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