15/02/2010

BELGIQUE - O CASO DAS ESCUTAS

Apraz-me escrever algo sobre as escutas não porque é um assunto que está a fazer as capas dos diários em Portugal mas exclusivamente com o intuíto de alertar os leitores, pelo menos os mais cépticos na matéria, para o facto de que ninguém está livre de ser o próximo alvo. Senão, acompanhem-me neste raciocínio:
Imaginem que, num dia de Janeiro, hipoteticamente dia 08, inesperadamente pela manhã, recebiam um telefonema identificado, com direito a nome e tudo, no ecrãn do vosso aparelho. O que fariam?

Respostas:
A) Ao ver o nome da pessoa no ecrãn, desligaria de imediato a chamada ou fingia não ouvir tocar o telefone, até a pessoa desistir ou até a chamada ir parar ao voicemail.

B) Nem sequer olhava para o ecrãn e atendia o telefonema.

C) Olhava para o ecrãn, via que era alguém das suas relações, atendia a chamada e dava os bons dias.

D) Olhava para o ecrã, via que era alguém das suas relações, atendia a chamada e dava os bons dias mas sem fazer a miníma ideia de que, ia entrar num esquema que está muito na moda e que se chama: " O caso das escutas".

Quem arrisca uma resposta? Vá lá, vou dar uma dica. Com certeza já aconteceu a muitas pessoas receber um telefonema de alguém conhecido ou não, e quando esta chamada é atendida, parece que ninguém nos ouve, não é? Pois é, o que acontece é que esta pessoa em causa, ligou-nos por engano, sem querer. Como é que isto acontece? Não é preciso tirar um curso superior para adivinhar mas estas coisas estão sempre a acontecer, não é?! Os aparelhos de telemóvel vieram revolucionar a forma de comunicar entre as pessoas neste universo da globalização mas mesmo uma tecnologia de ponta, como a destes aparelhos, ainda não consegue ter autonomia suficiente para escolher a quem telefona, sozinho, se não estiver bloqueado!
Não interessa o modelo, a marca ou a cor, todos cometem a mesma falha se não estiverem bloqueados. Já volto à escolha múltipla e consequente acontecimentos...Antes, proponho um pequeno exercício.

Quem bem me conhece sabe o quanto sou justa com as causas a que me agarro e esta dos telemóveis tocou-me pessoalmente. Devia existir uma ONG para lutar pelos direitos dos telemóveis.Coitados!!!! 
Experimentem por alguns minutos um exercício muito simples. Imaginem que são um telemóvel. Podem escolher a marca, o modelo e a cor, é com cada um de vocês. Agora, imaginem o cenário da vossa vida diária:

Cenário 1 - Estão literalmente largados dentro das malas das senhoras, no meio de batons, rímel, chaves, pensos rápidos e higiênicos, limas, guarda-chuva portátil (uma mulher tem de estar sempre previnida), carteira para documentos, outra para cartões de crédito, porta moedas, várias canetas (não vá uma falhar, há sempre outra), pen drive, eventualmente um segundo ou terceiro telemóvel enfim, a lista podia ser quase interminável no que respeita às senhoras.

Cenário 2 - Estão super aconchegados nos bolsos das calças ou do casacos dos senhores. Eventualmente neste público, podiam estar numa pochete e seria perfeitamente aceitável. O caos de ser um telemóvel nas mãos deste público, pode ser considerado como exponencialmente reduzido e a estimativa média de vida bastante elevada.

Cenário 3 - Ser propriedade de um jovem adolescente. Também aqui, como no caso das senhoras, a vida de um telemóvel não deve ser fácil. Só as mensagens que um jovem troca ao longo de um dia, deixaria qualquer aparelho de rastos...Ufa, é uma canseira!

Agora que escolheram o cenário, imaginem as conversas que teriam de ouvir ao longo de um dia na pele de um telemóvel...Não é fácil pois não? E as mensagens de texto? Deve ser por isto, imagino, que as escutas são muito importantes. Os serem humanos têm de ter conhecimento de como é difícil a vida destes aparelhos numa sociedade que se quer cada vez mais actual e cosmopolita. Aqui neste caso específico, estamos perante aquilo que se considera escutas legais, autorizadas por procuradores, juízes, embargadores e sei lá mais quantas pessoas da jurisprudência num Estado de Direito.
E as escutas não autorizadas? Onde ficam? Peço-vos um pouco mais de paciência mas, já lá vamos... às escutas não autorizadas.

De regresso à escolha múltipla, já conseguiram decifrar a resposta?
Em resposta afirmativa, alegro-me em informar que são pessoas minimamente inteligentes. Caso contrário, não fiquem tristes pois havia uma rasteira na resposta. Faltava alguma informação que passo a explicar de seguida não sem antes, apenas para me certificar que todos me estão a acompanhar nesta quase tese, informar que a resposta correcta é a D.

Muito bem, vamos continuar o enredo: atendia-se o telefone e como era alguém das vossas relações respondiam como é do vosso hábito sei lá; alô, tô, hi, hello, bom dia! Whatever, a mim aquilo que cada um diz quando atende o telefone não interessa muito. Do outro lado, ouviam claramente o vosso nome mas, curiosamente, o vosso nome continua a ser mencionado mais algumas vezes e intântaneamente você percebe não estão a falar convosco. Estranho...O que se está a passar? Tentam apelar à surdez do outro lado e insistem no chamamento, !! Agora chamam a pessoa pelo nome na esperança que assim ela vos possa ouvir e perceber que vos ligou, caramba! Nada... A conversa continua a se desenrolar e antes que possam fazer aquilo que normalmente as pessoas que se conhecem fazem, isto é, desligar o aparelho para que a outra parte não gaste muitos euros, ainda para mais sem sequer ter partilhado um dedo de conversa; percebem que a conversa é entre duas pessoas, o cenário do coitado do telemóvel é garantidamente uma mala de senhora, e que estão a falar de você. Que escândalo! Sem desejar, numa manhã até então normal como outra qualquer, você se vê no papel de inspector, espião ou sei lá a designação. Continue a imaginar esta conversa, nítida e clara a se desenrolar e onde para além da sua pessoa, outras também são alvos da coscuvilhice, má língua, bisbilhotice e mexerico (não encontrei mais sinónimos no dicionário). O que faria?

O meu enredo acabaria assim:
Ficaria a ouvir a conversa durante uns 16 minutos e como sou uma pessoa ocupada, nesta altura desligaria o telefonema para acabar de secar o cabelo. Tenho de estar linda para almoçar e o tempo urge. As pessoas em causa, iriam de imediato para o meu cemitério particular, aquele de que escrevi no post de ontem, e a vida continua. Quem me conhece sabe que sou assim...A Lealdade quando se gosta de alguém é fundamental.
Abriria um debate público sobre a teoria de que está a acontecer uma revolução dos telemóveis. Como estão fartos de serem usados para fins que não concordam, revoltaram-se contra a sociedade e andam a fazer chamadas sozinhos...desde que estejam desbloqueados. Já ouvi dizer que estão a pensar seriamente em fazer uma greve de repercusão nacional mas os responsáveis  dos sindicatos dos telemóveis revoltados estão em negociações com o governo para tentarem encontrar uma solução equilibrada e que agrade a ambas às partes.

O que vale é que mesmo sendo uma escuta não autorizada, estamos livres de que nos coloquem uma providência cautelar pois não somos proprietários de jornais e ou canais de televisão. Também não nos podem colocar um processo crime pois não fomos nós a estabelecer a escuta, a chamada chegou-nos imposta e por último, a coscuvilhice não tem carácter de utilidade pública pois não somos membros do governo.

E já agora fica uma outra questão fundamental: Quem se atreve a teorizar sobre o sexo dos telemóveis? É que dos sexos dos anjos já muito se disse, e dos telemóveis????  

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