05/10/2011

Restaurante Ti Chôa

Apesar de não ser uma crítica gastronómica, pelo menos profissionalmente, a minha formação académica aliada ao meu percurso de vida, permite-me que consiga facilmente diferenciar em termos gastronómicos e técnicos o que é verdadeiramente bom, daquilo que não tem interesse nenhum.



As experiências que entretanto vou acrescentando ao meu repertório gustativo, revelam que podemos encontrar refeições inesquecíveis, daquelas que nos fazem viajar pelo mundo dos sabores, em restaurantes que marcam pela diferença no contexto onde estão inseridos.
Mais ou menos há cinco anos atrás, numa viagem de família à Terceira, nos Açores, uma docente da Universidade dos Açores falou-nos sobre um restaurante que tinha acabado de abrir - o Ti Chôa.
A curiosidade nesta nova aventura gastronómica, fez-nos passar por pelo restaurante ao final de uma tarde de passeio porém, o mesmo ainda não estava aberto para o serviço de jantar.
A simpatia de uma das proprietárias, a Delize, foi mais do que um convite para nos sentarmos um pouco ao balcão e travarmos uma agradável conversa que durou algum tempo.
Ficamos a conhecer a história do restaurante e a razão do nome do mesmo. Ti Chôa era a alcunha de um emigrante terceirense que viveu durante muitos anos na Argentina.
Quando Ti Chôa regressou à Terceira em definitivo, trouxe com ele muita vida e uma alegria diferente daquela que as pessoas estavam habituadas a ver.
Apesar do sotaque açoriano ser logo à partida sui generis perante as pessoas do continente, Ti Chôa que era um homem de estrutura física invulgar, cujas vestes tinham uma forte influência dos Pampas, conseguia ter um sotaque ainda mais fora do vulgar que o habitante local, algo que era único e inconfundível. A utilização da expressão Chôa na sua linguagem quotidiana era apenas um dos muitos exemplos daquilo que Ti Chôa trouxe desta partilha cultural, resultado dos anos de emigração. Delize, sua mãe e irmã decidiram abrir o restaurante e deram-lhe o nome daquele Homem invulgar que alegrou a Serreta até o dia da sua morte...Ti Chôa.
Eu e a minha família gostamos imenso do restaurante. Na nossa última visita à Terceira, a minha cara-metade tomou a precaução de fazer a nossa reserva para uma Sexta-feira (noite muito concorrida), ainda de Lisboa, para não corrermos riscos. No Ti Chôa, não estão a espera que o cliente acabe a sua refeição para preencher a mesa com outro cliente. A mesa está destinada aos clientes por toda a noite, pois o ritual dos pratos, desde a entrada até a sobremesa, passando pela oferta dos licores caseiros é algo que acontece com calma ,num ambiente familiar e descontraído.
Na Cozinha está a mãe e a irmã da Delize, são elas que confeccionam as extraordinárias iguarias que ajudam a dar fama ao espaço. A Delize por sua vez está na sala, passeia a sua elegância e beleza muito própria de quem é autêntica naquilo que faz. Procura saber se está tudo bem com os clientes, se estão a gostar, dá sugestões acertadas e troca impressões sobre temas de interesse mútuo. Tem aquilo que eu costumo apelidar de boa conversa.
Alcatra e vinhos açoreanos (tinto -Terras de Lava / branco - Frei Gigante)

torresmo e molho de fígado
Às sextas-feiras, sem reserva antecipada, não há jantar. Neste dia alguns dos clientes habituais aproveitam para animar o espaço com música ao vivo, dança e muita animação, que surje naturalmente numa interacção entre clientes que já conhecem e outros, como nós, que passamos a fazer parte daquela festa. É neste dia que o pão caseiro é cosido no forno de lenha aromatizado com folhas de figueira.
 Sexta-feira ao jantar (quem está a tocar é um cliente habitual)
Por fim e não menos importante, fica uma pequena ideia dos doces pecados a que temos direito...
Meloa da graciosa e mousse caseira de morango
Um miminho da Delize

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